Thursday, January 24, 2008

Toula Q.B.

Caros leitores, se é que já os há por aí...
Como houve reacções ao endereço deste meu blog, depois de pensar bem decidi deixar aqui algumas palavras sobre o assunto.
Decidi em primeiro lugar não alterar a morada, a escolha já tinha sido ponderada, e não tinha sido feita levianamente, pelo que acho muito mais útil deixar aqui o porquê da escolha...e o porquê das reacções.

a Doula Toula sou EU! Mais nenhuma das outras Doulas!
E porquê Toula? Porque é como me sinto, sou a Aprendiz no meio das Anciãs. A Aprendiz de Feiticeira. Descobri este caminho, apaixonei-me, e sei que tenho um mundo pela frente com muito para aprender, algumas lutas e muitas felicidades. Além disso, quem me conhece sabe(e até se vai surpreender com este post) que eu sou dada a estas baboseiras e brincadeiras. Vivo com um sorriso nos lábios e um piscar de olho maroto. E é assim que vou estar ao lado das mães que me queiram.

E porquê as reacções? Porque realmente as Doulas ainda não são vistas com bons olhos pela grande maioria da opinião pública. Aliás, no estrangeiro onde o seu trabalho já tem mais tempo, sabe-se que não foi tarefa fácil e que tiveram de enfrentar muitos cépticos, muitos Velhos do Restelo, muita gente mal-intencionada. E por isso temos de ter muito cuidado com a informação que veiculamos para o exterior, temos de ser claras, objectivas, e não dar azo a qualquer mal-entendido.

A minha principal questão é, a falta de respeito, a reacção brusca ou mesmo violenta, as palavras duras e injustas que muitas Doulas já ouviram são resultado da ignorância e do medo. São também elas resultado do círculo vicioso "dor --> medo --> tensão --> dor".

E assim, pensei bem, e percebo a renitência quanto ao enderço do meu blog, mas escolho enfrentar este novo caminho assim. Até porque, posso-vos dizer que só tenho tido boas reacções, quem conhece as doulas só tem boas opiniões a dizer, quem não conhece fica encantado e curioso para saber mais.

Minhas Amigas (e alguns amigos) vamos à Luta! Eu estou pronta!
Sempre com uma gargalhada e um bom argumento como armas!

Friday, January 18, 2008

"Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes."

William Shakespeare
Eu pelo que ando a estudar tenho outra ideia, mas a hipótese do Sr. Shakespeare também não é de menosprezar... ;)

O mais belo (re)encontro

"Sua "fada madrinha" a pegou delicadamente entre os campos cirúrgicos e foi se aproximando para colocá-la no meu colo. Recordo-me de dois olhos curiosos se aproximando de mim...
"É que eu também queria te conhecer, mamãe! Eu já escutava sua voz conversando comigo, mas queria ver como era sua cara..."

Sonia Isoyama Venâncio
in "Humanizar nascimentos e partos"
Que lindo...

Sobre o Hospital Geral do Itaim Paulista

"Ainda sobre clientes externos, convidámos o grupo de mulheres da comunidade para formar uma comissão de doulas. Com essa ideia, solicitámos uma reunião com elas e oferecemos o projecto de doulas no hospital."

Marcos Roberto Ymayo
in "Humanizar nascimentos e partos"
Eu confesso que não tenho grande fé no sistema instituído, nos hospitais, e na maioria dos agentes de saúde, mas esta hipótese agrada-me...Seria possível um trabalho directo com um hospital? Haverá equipas médicas abertas a esta possibilidade?
A conclusão a que chego é que em vez de pensar que não, tenho de começar a acreditar que sim, a materializar a ideia, a pensar que é possível, e assim sim, o Hospital e a equipa vão aparecer!
"A única preocupação era a técnica: fazer o bebé nascer o mais rápido possível, porque quando está no canal de parto, ele deve nascer logo! Não levavam em conta que a natureza é bem pensada e que a transição do ser humano duma dependência total a uma independência parcial é uma passagem, e que alguns demoram mais que outros..."
Irmã Monique Bourget
in "Humanizar nascimentos e partos"

Tuesday, January 15, 2008

Saber esperar

"É nossa tarefa, enquanto agentes de saúde envolvidos com a humanização do parto, favorecer e cuidar desse amadurecimento. Promover a autonomia da gestante e do pai e respeitar o tempo de busca de soluções próprias. Se para todas as dificuldades são fornecidas soluções externas (técnicas ou não), a confiança passará a estar depositada apenas naqueles e naquilo que está fora de si (profissionais, cesáreas, mamadeiras, etc.). Os pais precisam de tempo e de apoio para construir sua maternidade e sua paternidade. Não apressá-los exige que saibamos esperar. Tempo. Acompanhá-los exige nossa disposição para sentir e elaborar os elementos que o nascimento - encontro e despedida - traz à luz."

Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado
in "Humanizar nascimentos e partos"

Autonomia do bebé

"Anteriormente, dissemos que o bebé nasce equipado para "pedir". Ao ganhar autonomia, ele "des-pede" o que antes precisava pedir. Exemplificando: o bebé chora porque está desconfortável em determinada posição no berço, ele pede ajuda da mãe, que, correspondendo ao pedido, muda o bebé de posição. Ao aprender a "se virar sozinho" no berço, o bebé despediu a ajuda da mãe. Se a mãe aceitar essa despedida, estará promovendo o crescimento do seu filho, além de estar fortificando a sua confiança nas capacidades dele. Se, em vez disso, a mãe negar essa despedida e mantiver o habito de mudar o bebé de posição, estará "im-pedindo" o desenvolvimento dele, mantendo-o regredido e dependente dela, cada vez sentirá mais insegurança e receio e desconfiará das capacidades de seu filho, o que pode dificultar o processo de aquisição de autonomia e de formação de identidade dessa criança."

Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado
in "Humanizar nascimentos e partos"

E o que nós queremos é bebés, mães e pais que saibam "se virar sozinhos" !!! (como já devem ter percebido a maior parte dos textos são brasileiros, mas o que importa é a mensagem!!)

o Tempo (do parto)

"Humanizar o parto é respeitar o tempo fisiológico e dedicar tempo de escuta, para receber e partejar outros elementos que estão emergindo."

"Vale notar, nesse sentido, que a tecnologia é recurso para a humanização se estiver baseada na ampliação da qualidade de atendimento à pessoa; por outro lado, ela pode se tornar brutal quando utilizada "apenas" para ganhar tempo."

Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado
in "Humanizar nascimentos e partos"

Toda a família está dilatada

"Pós-parto. Momento de "acabamento" da experiência do parto. Tempo de ressonância que pede a abertura de espaço para a escuta. Pais, avós, familiares e, especialmente, a mãe estão dilatados, abertos. Há muito mais para sair além do bebé. Há outras dilatações e contracções além das uterinas. Toda a família está dilatada: transborda, procura e aguarda o espaço para expressar algo vital de si mesma."

Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado
in "Humanizar nascimentos e partos"

Humanizar

"Humanizar, portanto, não é tratar educadamente, fazer carinho, adocicar a voz para mal esconder o drama, a dor de quem sofre ou a ansiedade de quem está diante do desconhecido ou do incerto. Humanizar é envolver-se com as pessoas, para melhor entender seus medos, suas alegrias, suas ansiedades, suas expectativas, e poder, de algum modo, ajudar, solidarizar-se. Humanizar é entender que há momentos fáceis e alegres e outros difíceis e cruéis, que a vida reserva a todos e dos quais não escapamos. Humanizar é entender a nossa modesta relatividade diante do outro, do mundo, da vida (afinal)."

Rui de Paiva
in "Humanizando nascimentos e partos"
"A humanização do parto carrega componente emocional importante. Injunção bíblica à parte, o parto é um grande momento na vida da mulher, e da família, e nada impede que seja também uma experiência gratificante. Não se trata exclusivamente de evitar a dor e o desconforto da partiriente, trata-se do apoio proporcionado pela equipe de atendimento, por familiares, por amigos e amigas."

Moacyr Scliar
in "Humanizando nascimentos e partos"

"Em meio a dores darás à luz"

"Em meio a dores darás à luz
Génesis 3,16

A determinação divina, castigo pelo pecado original, condicionou, na cultura ocidental, uma verdadeira tradição segundo a qual o parto é o momento da expiação da culpa, o que só pode ser feito mediante sofrimento. Aquilo, que no reino animal, é um ato fisiológico não muito diferente de outros atos fisiológicos, ficou assim carregado de simbolismo e aflição. Simbolismo e aflição que tinham contrapartida nas dificuldades reais que muitas vezes estão associadas ao parto, resultantes das características anatómicas da espécie humana"

Moacyr Scliar
in "Humanizando nascimentos e partos"

Monday, January 14, 2008

O lado B das Ecografias

No curso de Educadora Perinatal falámos sobre as ecografias. Foi mais uma "bomba", mas que eu pensando bem acabo por concordar.
As ecografias foram um enorme avanço no diagnóstico pré-natal, não há dúvidas. No entanto continua a ser uma técnica muito rudimentar, e que leva a falsos diagnósticos frequentemente. Desde ao diagnóstico de mal-formações que não existem, a meninas que afinal são meninos, até a outras histórias mais caricats que vos deixo aqui neste texto da Pais & Filhos.

O que defende o Ric Jones é: o que vais fazer com o resultado dessa ecografia? Se houver uma mal-formação vais abortar?
Sim? Então ok, vamos fazer a ecografia.
Não? Então e se pensássemos melhor sobre este assunto?

Claro que é uma delícia ver o bebé no ecrã, ter a certeza que ele está lá...mas será que esta verdade só se confirma num ecrã? E todos os feelings? As novas sensações por que o nosso corpo passa? A barriguinha? As mamocas maiores?

Como dizia o Ric, há quem olhe com mais atenção para o monitor que para a sua barriga :)

Ainda por cima já há provas científicas que mostram que as ecografias podem ter efeitos secundários no feto , mas não é disso que eu estou aqui a falar hoje.

Deixo-vos este texto:
"O lado B das ecografias" revista Pais & Filhos

"Dois anos depois, Filipa faz a contabilidade dos 'danos' da gravidez. Dez ecografias, rios de dinheiro em exames e consultas, muitas incertezas, uma ansiedade exponencialmente superior ao normal. Conta que pouco depois de Tomás nascer chegou a confessar a uma amiga que se voltasse a engravidar nunca mais faria uma ecografia. Hoje está mais em paz, mas afirma: «É impossível não retirar nada desta história...»"

"Nem sempre a relação com as ecografias é pacífica durante a gravidez. A tranquilidade que trazem, quando, aparentemente, tudo está bem, é directamente proporcional ao desassossego que provocam quando algo parece que está errado."

"«Pior do que não fazer uma ecografia é fazer uma má ecografia...»"

"O segundo médico confirmou o diagnóstico e as dúvidas dissiparam-se. Foi o início de um processo longo e desgastante. Ecografia atrás de ecografia, consulta atrás de consulta. O parto foi rigorosamente preparado. À espera do bebé estava uma equipa de neurocirurgia pronta a cuidar dele. Qual não é o espanto - e a alegria - de todos quando a criança nasce e se percebe que afinal o que ela tinha na cabeça era um pequeno quisto dermóide..."

"«Antigamente, quando os bebés nasciam, os pais contavam os dedos das mãos e dos pés. Hoje isto já não acontece. É a prova de que a ecografia trouxe tranquilidade à gravidez.»" (eu pessoalmente acho este ritual um delícia :)

"«Arrependi-me muito de ir a correr para o médico só porque estava grávida», confessa Ana, com a sorridente Maria, de três anos e meio, ao colo. Do episódio do misoprostol ficou-lhe uma lição: «Cada comprimido que tomava parecia-me um erro. Sentia-me grávida!» Hoje acredita que o instinto é o melhor amigo da grávida." (Misoprostol, abortivo prescrito a esta grávida porque na ecografia não aparecia o embrião, logo não estava grávida...)

Sunday, January 13, 2008

Orientações para Mães de Primeira Viagem

1. Cada bebê é único/a.

2. A mãe é essencial! Por isso deve valorizar-se.

3. Para o bem estar do/a bebê é importante que sua mãe esteja bem. Portanto, ela deve cuidar-se psicológica e fisicamente, pedindo ajuda sempre que for necessário.

4. A mãe deve aprender a confiar no taco dela. Deve se permitir experiementar modos próprios de cuidar de seu/sua bebê. Ela, melhor do que ninguém, sabe o que é melhor para si e para seu/sua filho/a. É importante ouvir criticamente a "opinião dos especialistas" e rejeitar imposições e "lições" de parentes, profissionais e vizinhos.

5. A participação do pai é tão importante para o/a bebê quanto para a mãe.

6. Lugar de bebê é no aconchego junto a seus pais, no abraço, no colo, no carinho.

7. Não deve haver qualquer rotina pré-estabelecida que não respeite o ritmo natural do/a bebê.

8. O/a bebê pode chorar por diversos motivos, entre eles: fome, calor, frio, cólica, sono, dor, fraldas sujas, algo incomodando, excesso de estímulos, ou simplesmente querendo um colo para ir se acostumando à vida fora do útero. É importante que a mãe, o pai e os familiares tenham paciência e se dediquem a aprender a interpretar corretamente as diferentes razões que motivam o choro.

9. As cólicas podem ser aliviadas fazendo o bebê arrotar logo após a mamada e massageando-o antes de dar de mamar. Movimentos com as pernas, simulando o andar de bicicleta, também são bem vindos, várias vezes ao dia em caso de cólica intensa. Do mesmo modo, massagens para cólias, Shantala, Toque Sutil, Toque Eutónico, etc.

10. O/a bebê deve alimentar-se em livre demanda. Não lhe se devem dar fórmulas, papinhas industrializadas, água ou chazinhos para sua alimentação durante os primeiros seis meses de vida. Mesmo em lugares em que o calor chega a 40 graus ou mais, não há necessidade de outro líquido além do leite materno.

11. É bom evitar o uso de mamadeiras e chupetas, andadores e cercados. As chupetas, sobretudo, devem ser evitadas no começo da amamentação e nunca colocar açúcar ou mel ou edulcorantes sobre a mesma.

12. O/a bebê pode dormir com a mãe se ele/a o desejar.

13. Se o bebê for ainda recém-nascido é aconselhável que durma de lado, com os bracinhos para fora do cobertor. Pode-se colocar um rolo nas costas do bebê, isso dá conforto, ajuda a manter a posição e a mãe fica mais tranquila.

14. O cordão umbilical deve ser higienizado com álcool a cada troca de fralda, até seu completo desprendimento.

15. Morando-se em lugares quentes, é bom proporcionar ao/à bebê um banho de sol, sem roupas, por pelo menos 5 minutos ao dia, principalmente em casos de icterícia, antes das 9hs e após às 16hs. Em lugares frios, pode-se dar banhos de luz com lâmpadas mais fortes ou por uma janela onde bata o sol.

16. O banho deve ser realizado assim que cair o toco do cordão umbilical e com sabão de PH neutro.

17. É possível tomar banho de chuveiro com o bebê, pode ser mais prático e divertido.

18. A pele do/a bebê é muito sensível. Não é preciso colocar nenhum produto sobre seu corpo. Sobre a pele devem ser usadas roupas de algodão, preferivelmente brancas ou de cores claras e tênues; evitar o uso de tecidos sintéticos. Para lavagem usar sabão neutro e não usar o amaciante, este pode ser substituído por com algumas gotas de vinagre na água do último enxague.

19. Não se deve cobrir o/a bebê excessivamente.

20. Em algumas situações, o/a bebê pode ficar sem evacuar por vários dias e estar tudo bem, sobretudo por volta do 1º mês de vida, e quando evacuar novamente, será em grande quantidade. Se as fezes estiverem secas, em pequenas quantidades e esverdiadas, representam um alerta. Geralmente, significa que a alimentação da criança não está boa.

21. Cada bebê tem seu próprio ritmo de evacuação. Um bebê pode ficar vários dias sem evacuar e estar bem mesmo assim.

22. Não é recomendável o uso de suportes para ter o bebê no colo, preferindo-se o sling.

23. O/a bebê não necessita somente de alguém que se ocupe de suas necessidades físicas, como também de alguém que lhe dê atenção, fale come ele/a, cante para ele/a, o/a toque e olhe com carinho o/a leve para passear e brinque com ele/a.

24. Amar o bebê significa respeitar seus ritmos e necessidades. Alimentá-lo quando ele/a estiver acordado/a e mostrar que tem fome, permitir que durma en lugar aconchegante, escuro e silencioso. Não fumar ao amamentar e não deixar o/a bebê próximo de fumantes. Evitar ir com o/a bebê a lugares barulhentos, poluídos, agitados ou excessivamente quentes ou frios.

Trabalho de finalização do Módulo Recém-Nascido do Curso de Humanização 2007.
Autoras: Angela Mattos, Tanila Glaeser, Adriana Tanese Nogueira, Cristina Toledano, María Vergara, Maru Drexler, Lina Ferraz, Lisandra Pinheiro e Fabiana Muller.
Coordenação: Adriana Tanese Nogueira

"Parto não é mãezimetro"

"“Ninguém é menos mãe porque fez cesárea”, ou não amamentou, ou adotou um bebê, ou só tem um olho.

Parto não é “mãezimetro”."

Socorro Moreira em www.partodoprincipio.com.br

Friday, January 4, 2008

Mudar o Mundo

"Para mudar o mundo é preciso mudar primeiro a forma de nascer."
Dr. Michel Odent
(A Soninxa disse-me um dia que eu estava no bom caminho para mudar o mundo, na altura pareceu-me um papel demasiado ambicioso para mim, mas com esta frase aceito-o de bom grado. Estou pronta para enfrentar tudo e todos para mudar o Mundo!!)

Thursday, January 3, 2008

As peças encaixam

Eu faço colecção de sapos:). Desde sempre. Desde que me lembro. Sempre me intrigou o porquê, sempre achei que um dia havia de encontrar qualquer coincidência (e não há coincidências;) entre a minha vida e os sapos...e aqui está ela! A Deusa Heket!!! Agora que estou a enveredar pelo caminho da Humanização do Parto e o maravilhoso mundo das Doulas descubro a Deusa Egípcia do Nascimento, a Rã :D

Heket era uma Deusa da Água, diretamente associada à criação e ao nascimento. Os seus lugares de culto mais importantes situavam-se no Egito Médio, nomeadamente em Antinoé.

Nessa cidade, essa Deusa batracomorfa, representada, normalmente, ora como uma mulher como cabeça de rã, ora como rã, surgia, enquanto divindade criadora primordial, associada ao deus Khnum, sendo considerada sua esposa. Era ela que conferia o sopro da vida aos homens e às mulheres que Khnum modelava na sua roda de oleiro.

Heket tinha principalmente uma função benéfica junto das mulheres, no momento crucial do parto. A sua figura era representada em vários amuletos e escaravelhos, usados por motivos mágicos pelas mulheres grávidas e pelas parturientes para as protegerem durante o parto. Deusa do parto e do nascimento real, Heket era considerada a padroeira das parteiras que, compreensivelmente, eram apelidadas de "Servas de Heket". A tradição lendária propagava que, juntamente com Meskhenet, a Deusa Heket era uma das parteiras que, todas as manhãs, assistia ao nascer do Sol.

Todavia, Heket tanto presidia ao nascimento dos faraós e das rainhas como ajudava Osíris a ressuscitar de entre os mortos. A sua forma de rã era, aliás, extremamente elucidativa nesse particular, pois esse batráquio era um símbolo de ressurreição. A rã, pela sua capacidade reprodutora e pelo mistério ligado ao seu nascimento, era, efetivamente, associada às forças que davam vida ao morto.

Em Hermópolis, Heket estava ligada às quatro divindades-rãs que viviam no Nun antes da "Primeira Vez", antes da criação do Cosmos. Em Abidos, defendia-se que, simultaneamente com Shu, de quem fora esposa, nascera do deus-sol Rá. Em Kus, no Alto Egito, era encarada como esposa de Hor Uer, possuindo um templo próprio.

Ocasionalmente, Heket era vista como uma forma de Hathor e, em conseqüência, chamada mãe de Hórus, o Antigo (Hor Uer). Era também assimilada a Nekhebet, a Deusa-abutre do Alto Egito.