Com a minha filhota pendurada da mama e só com uma mão vou tentar contar-vos o nosso parto...mas não há palavras.
Foi lindo, muito melhor do que alguma vez eu teria conseguido imaginar. A verdade é que eu nunca tinha conseguido imaginar grande coisa, nem nas meditações, nem na sofrologia. Racionalmente pensava que podia ser assim, ou assado, mas a Ada escolheu um parto maravilhoso.
Bem...passando aos factos ;)
Às 04h da madrugada acordei um bocadinho desconfortável. Com vontade de ir à casa-de-banho, com a impressão de estar mal dos intestinos. Percebi que algo se passava, mas julguei que era o 1º sinal, que algures ao longo dessa semana a Ada havia de nascer.
Fui à casa-de-banho várias vezes, reboli na cama, acabei por tomar um banho porque sabia que se ligasse à doula era esse o conselho que ela daria. Com o banho a coisa havia de se definir. Nada...continuava a sentir algo diferente, mas nem tinha contrações muito definidas. Só pensava, isto não é nada, ainda nem me saiu o rolhão, nem tive muitas contracções.
Às 06h sim, a coisa lá se definiu. De repente e tudo ao mesmo tempo saiu-me o rolhão, romperam-se as águas e comecei a ter contracções fortes e muito juntas. Já tinha a minha doula do outro lado do telefone e aqui percebemos que estava mesmo a começar, liguei à parteira, que só de me ouvir pelo telefone disse logo para chamar a equipa toda.
E assim foi, ligámos a uma amiga aqui de Vila Real, ligámos à minha sogra, a doula e a parteira já vinham a caminho. A partir daqui foi a loucura total! Eu que pensava estar em trabalho de parto umas 12h, comecei logo com contracções de 1min30 em 1min30 e vontade de fazer força, e pensava, eu não aguento 12h disto. Além disso a única certeza que tinha era que queria que a Ada nascesse em casa, por isso estava muito preocupada por estar com tanta vontade de fazer força, porque podia levar a inchar o colo do útero e aí tínhamos mm de ir para o hospital. Mas era uma vontade incontrolável de fazer força...sabem do que falo mamãs ;)?
Quando a Ana chegou o Eduardo já pôde tratar de encher a banheira de água. Nós até tínhamos piscina insuflável, mas não havia tempo de a encher de ar e muito menos de água, por isso a nossa banheira cor-de-rosa serviu perfeitamente. E lá conseguímos chegar à banheira, com uma contracção a meio caminho que os ia deitando ao chão aos dois. Já à beira da banheira eles tentaram segurar-me porque a água estava muito quente, mas ninguém segura uma mulher a parir, e eu atirei-me literalmente lá para dentro. E que alívio... que delícia... que sensação...
Não sei quanto temop ali estive, lembro-me do Eduardo, lembro-me de estar a "espremer" ora a mão da Ana, ora a mão do Eduardo, lembro-me de gritar ou gemer nas contracções e de dizer não, não, não a tentar não fazer força, mas era impossível, percebo agora que estava em pleno periodo expulsivo.
A certa altura a Ana pôs-me "Rescue", e aí tive a clarividência de perceber, se o meu corpo está a fazer força, desta maneira e com esta intensidade, não pode estar errado. E aí deixei de lutar tanto com as contracções, sempre a tentar não fazer toda a força que me apetecia, afinal a parteira ainda não tinha chegado, mas menos angustiada por estar com tanta vontade de fazer força.
Quando a parteira chegou, vinha a subir as escadas e eu já a ouvia a dizer qq coisa tipo, estou a chegar!! e assim que entrou na casa-de-banho eu só lhe perguntei "posso fazer força?"..."Claro que podes!" e foi o alívio. Ufa! Fiquei tão serena que me pareceu que tinha ficado sem contracções:) Até aí por mais que respirasse assim ou assado, parecia que cada respiração despoletava uma contracção:P
Em 10min a Ada estava cá fora. Já ninguém me conseguiu tirar da banheira, ela já estava a coroar. A parteira ainda disse, mais 3 contrações e ela sai, mas eu lembro-me de pensar sei lá quando é a próxima e agora se eu fizer uma forcinha se calhar ela já nasce. E nasceu :) Ás 09h56m caiu a nossa fada nas mãos do pai.
Eu estava de quatro, exausta, lembro-me que ela fez uns sonzinhos e eu fiquei descansada, está tudo bem, há ali quem tome conta dela, deixem-me só recuperar o fôlego...
Lá me consegui virar, e vi a minha filhota, peguei nela, e dei-lhe muitos beijinhos, e cheirei-a. Foi mágico, único, poderoso, confuso, sei lá, afinal não há palavras para decrever e ao mesmo tempo há tantas palavras. Eu e o Eduardo ficámos em êxtase, sem saber se rir ou chorar, e a rir e chorar tudo ao mesmo tempo.
A placenta também nasceu sem problema. Eu tomei um duchezito, já estava na banheira e já;) e fui para o quarto, para a minha caminha.
Ao entrar no quarto tive a maravilhosa surpresa de o meu amor ter preparado tudo melhor ainda que nos meus sonhos. As velas acesas, uma músiquinha da Loreena McKennitt a tocar, a cama feita, hmmmm, uma delícia.
E depois tivemos direito a tudo o que merecemos! Um belo pequeno almoço de cházinho e pão com manteiga de amendoim! E a seguir foram chegando uma a uma as pessoas que a Ada não deu tempo de chegarem a tempo. A minha mãe, a minha doula e as suas princesas filhotas, a minha avó...e durante o resto do dia foi um desfilar de família e amigos pela beira da minha cama, tal como eu tinha desejado. Uma casa cheia tal como o nosso coração, de alegria, felicidade e amigos.